segunda-feira, 26 de maio de 2014

Coleção única na Península Ibérica mostra a arte de génios atormentados






O Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory, em S. João da Madeira, acolhe mais de 600 obras da “Coleção Treger/Saint Silvestre”. Este é um acervo único na Península Ibérica, no qual se destacam a Arte Bruta e a Arte Singular, criações nascidas do génio atormentado de artistas marginais um pouco por todo o mundo, autores sem qualquer ligação ao meio artístico, muitos deles internados em hospitais psiquiátricos.

As mais de 600 obras da “Coleção Treger/Saint Silvestre”, que se encontravam em França, enriquecem agora o espólio do Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory, onde começam a ser mostradas ao público a partir do final de maio. Essa será a próxima grande exposição a abrir nessas antigas instalações metalúrgicas desativadas, que o Município de S. João da Madeira resgatou e recuperou.

Constituído por Arte Bruta e Arte Contemporânea (incluindo Arte Singular e Arte Vudu), trata-se de um acervo de nível internacional, sem paralelo na Península Ibérica, que agora fica alojado no Núcleo de Arte da Oliva. A cedência é feita pelos colecionadores Richard Treger (músico natural do Zimbabué, com nacionalidade irlandesa) e António Saint Silvestre (escultor luso-francês de Arte Singular), que há alguns anos dividem a sua residência entre Paris e Lisboa.


No país de Miguel Bombarda

Ao longo de 40 anos – 20 dos quais dedicados à sua galeria em Saint-Germain-des-Prés, em Paris –, reuniram obras de criadores das chamadas “artes marginais” e de outros autores cujos trabalhos são próximos desse género artístico, constituindo uma importante coleção que fizeram questão de tornar acessível ao público em geral em Portugal, país do médico Miguel Bombarda (1851-1910), um dos primeiros a nível mundial a preservar e catalogar as criações de doentes psiquiátricos.

“Não quereríamos guardar estas obras como investimento ou para uso exclusivo de um público reduzido. Queríamos que toda a gente pudesse vê-las”, explica Richard Treger, revelando que o edifício da Oliva Creative Factory – uma antiga fábrica – tem as características que procuravam. “Este espaço é fantástico e tem um potencial enorme”, enfatiza António Saint Silvestre.


Um mundo paralelo repleto de tesouros

A Arte Singular e a Arte Bruta são “movimentos artísticos que, neste momento, inflamam o mundo da arte, na Europa e nos Estados Unidos”, sublinha Richard Treger, adiantando que a coleção integra também “artistas contemporâneos de relevo internacional, ausentes nas coleções em Portugal”, assim como artistas do Haiti, “inspirados na religião vudu”.


“A Arte Bruta é feita por pessoas que vivem num mundo paralelo, que têm problemas psiquiátricos e que não se consideram a si mesmos artistas”, descreve, por seu lado, António Saint Silvestre, reforçando que esta arte marginal, que foge às grandes correntes, vem sendo cada vez mais valorizada internacionalmente, com direito a publicação especializada em língua inglesa com circulação mundial: a revista “Raw Vision”. Na sua mais recente edição (Primavera de 2014), há mesmo seis páginas dedicadas à coleção “Treger/Saint Silvestre” e à sua “nova casa” no Núcleo de Arte da Oliva.

O galerista, curador e conferencista francês Christian Berst é o comissário da exposição de Arte Bruta a inaugurar em maio no Núcleo de Arte da Oliva. “Estas obras são como um tesouro, para a procura dos quais é necessário ter uma alma de explorador, de pesquisador de ouro. Descobrir, conservar, colecionar a Arte Bruta é provavelmente a ultima aventura da arte do século XXI” – afirma Berst, um dos maiores especialistas em Arte Bruta a nível internacional.

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